sábado, 12 de maio de 2007

A Hora das Estrelas

Talvez o que me mova agora não seja apenas a vontade de falar sobre minha mãe. O que me movimenta é a necessidade de externar todos os conflitos que ainda teimam em insistir. Como sempre falo, escrever me liberta, me redimi, é a minha permissão interna para estar no mundo. É a forma com a qual eu me apresento. Vasculhando as lembranças de infância, me vejo ainda no início da adolescência lendo "Àgua Viva" de Clarice e mesmo que não compreendesse a fundo suas palavras pra mim tão novas, eu nutria por ela uma admiração tão grande que somente fui entender depois de adulta, quando li "A Hora da Estrela". Na verdade, eu me sentia uma Macabéinha também, com meus pais desprovidos financeiramente, mas com uma necessidade de cultura que não combinava com a minha vida em si. Ou parecia não combinar, eu acho.
Quando lembro desse romance, outras lembranças povoam meu imaginário: minha mãe escutando o "Show do Antônio Carlos", na Rádio Globo e os seus calorosos "debates populares" Não era a rádio relógio da Macabéia, mas era o mesmo veículo. A aguçada percepção das duas as tornaram pessoas cultas sem as letras... a sabedoria que vem da vida e não do livro, da palavra. Como não traçar um paralelo entre essas duas mulheres se o final das duas foi digamos, semelhante...? A Macabéia de Clarice, singela e humilde é atropelada e morre debaixo dos olhos dos transeuntes. Eram os seus quinze e derradeiros minutos de fama. A Macabéia da minha vida, foi-se de vez no Dia das Mães... No Dia da Estrela. Muitos poderiam julgar que foi difícil pra mim o que aconteceu, mas eu prefiro acreditar que o destino a levou nesse dia por uma questão de celebração mesmo.

Kátia Barros

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